Por Kathlen Ramos

Os processos de rastreabilidade de medicamentos avançam no Brasil, apontando para a necessidade de maior integração entre os agentes da supply chain.

Os benefícios da rastreabilidade na área de saúde são inúmeros. Por princípio, o que se busca é garantir a segurança do paciente, seja em um hospital ministrando o medicamento certo, seja no ponto de venda ofertando o que o consumidor deseja. Mediante processos da rastreabilidade implementados, as empresas conseguem atuar de maneira rápida e eficiente, respondendo a qualquer demanda do mercado para apoiar processos de recall, bem como demandas do cliente e/ou de um órgão fiscalizador. Os processos de gestão também tornam-se mais eficientes e precisos a qualquer momento , e, caso ocorra alguma intercorrência, consegue-se identificar a origem do problema ou acionar os envolvidos com mais facilidade.

Esses foram os temas que permearam o Seminário de Tecnologia para a Rastreabilidade de Medicamentos e Produtos para a Saúde (SETRM&2017), realizado em 5 de outubro, no Hospital  das Clínicas, em São Paulo (SP).

O evento foi realizado pela GS1 Brasil e o GAESI, grupo que atua nas áreas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e automação e gestão de processos, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com a Faculdade de Medicina do Hospital das Clínicas. O objetivo foi explorar as mudanças que estão em curso em termos de rastreabilidade de na área de saúde no País.

O Seminário promoveu a integração e a troca de experiências entre órgãos governamentais, academia, associações e empresas, a fim de acelerar a implantação do Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM). Instituído pela Lei 13.410, o sistema vai monitorar todo medicamento produzido, dispensado e vendido no País, e o código GS1 DataMatrix, assim como foi definido pela RCD 157/2017 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),  será  a tecnologia  para fazer a captura de dados das embalagens secundárias de medicamentos.

A abertura do encontro contou com a participação de representantes da ANVISA, Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), GS1 Brasil, Parque Tecnológico- São José dos Campos e Hospital das Clínicas.

O diretor financeiro da GS1 Brasil, Charles Sampaio, participou do início dos trabalhos, comentando a importância da atuação da entidade no evento. ”O setor de Healthcare é extremamente importante para a comunidade GS1. Atuamos globalmente para o desenvolvimento de padrões e melhores práticas para o setor da saúde. No Brasil, também temos uma participação importante neste segmento, com grupos de trabalhos, seminários e assessorias. Inclusive, nosso Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) contempla uma área destinada ao setor da saúde demonstrando na prática a aplicação do código GS1 DataMatrix”, disse o executivo, convidando todos a conhecerem o espaço. O presidente da ANVISA, Jarbas Barbosa, não pôde comparecer à ocasião mas enviou um vídeo parabenizando a iniciativa que, neste ano, abordou a rastreabilidade não só de medicamentos, mas também de áreas relacionadas, como a de produtos para a saúde.

SUPPLY CHAIN ALINHADA

A colaboração efetiva entre as empresas que atuam na área de saúde permeou as discussões ao longo de todo o evento.

O Seminário contou com vários painéis de discussão. O primeiro deles abordou os desafios da rastreabilidade entre os membros da cadeia de saúde e a ANVISA, conceito caracterizado como rastreabilidade vertical, para a realização do projeto piloto ou fase experimental, como propõe a RDC 157/2017. Participaram deste debate os executivos da Johnson & Johnson, Roche,  Anché e Libbs. “Não há uma receita para a implementação, pois cada empresa tem a sua linha de produção. Por isso, é fundamental entender o próprio negócio, ter mão de obra de qualidade, fazer a implementação por fases e ter bons fornecedores”, sinalizou o diretor de operações da Libbs, Carlos Reis. Também é essencial que os fabricantes façam planos de contingência para fornecedores, equipamentos e ferramentas, destacou o gerente de TI da Aché, Leandro Roldão.

Os benefícios dos novos processos na gestão serão múltiplos. ”Ganharemos eficiência na conferência de materiais, picking, entre outros. Mas é preciso começar a se mobilizar desde já para que a implementação seja desenvolvida com calma, até 2021”, aconselhou o gerente sênior de suprimentos da Johnson & Johnson, Leandro Oliveira.

PADRONIZAÇÃO

O executivo de negócios da GS1 Brasil, Marcelo Sá, fez a mediação do segundo painel, que discutiu a rastreabilidade de medicamentos entre os agentes da cadeia de distribuição, chamada de rastreabilidade horizontal. Também participaram a sócia da PwC, Eliane Kihara; a coordenadora corporativa do Hospital Santa Joana, Ana Paola Negreto; e o representante da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (ABRAFARMA), Serafim Branco Neto.

“No Santa Joana, já fizemos a rastreabilidade horizontal, desde o recebimento do produto até o paciente. Para nós, uma caixa de 30 comprimidos significa 30 pacientes ou 30 locais diferentes de dispensação “, disse Ana Paola. Para Eliane, da PwC, as oportunidades da rastreabilidade já funcionam entre os grandes players, mas é preciso considerar, também, a realidade dos hospitais públicos.

Nesse processo, a relevância da adoção de padrões únicos para a rastreabilidade é fundamental. “Para falar a mesma linguagem em todo o País, sem dúvida, precisa-se de padronização”, afirmou Branco Neto. “Ter os códigos padronizados facilita a entrada de produtos no hospital, picking e inventário, já que temos a mesma codificação”, completou Ana Paola.

Outra questão em pauta no SETRM&2017 foi a necessidade de fazer a rastreabilidade e implementar os padrões GS1 também em produtos para a saúde e itens feitos sob medida. Esse foi o tema do terceiro painel, também mediado por Sá, da GS1 Brasil, que contou com a participação de representantes do Ministério da Saúde , do Boston Scietinfic, do Grupo Fix e da Universidade Federal de Itajubá.

Fonte:  Revista Brasil em Código  – GS1 Brasil